terça-feira, 25 de outubro de 2016

dois mil e dezesseis

Tudo que existia em mim se foi
tudo que eu era vasou, assim, desesperadamente
para qualquer lugar.

a boca que beija,
é do corpo que mata!
a mão que acaricia
por trás, apunhala.

dois mil e dezesseis:
tudo que existe se vai.
tudo que somos jaz.
num piscar de olhos: para qualquer lugar.

as bocas se beijam
os amores se matam.
os carinhos efêmeros
acariciam a morte.

e tudo vai bem.
(isso é mesmo importante para quem?)

domingo, 2 de outubro de 2016

Morte

Morro.
Morro e não silenciam as vozes, os risos, as gargalhadas.
Ninguém vê o pranto; ninguém sente o desgosto
de ser e simplesmente existir.

Eu mato-me aqui,
Morro e não faltam porquês,
Nem vontades, nem uma luz na cidade
Pra me fazer lembrar do que me fez sofrer.

Matam-me! E há quem pense
Que a corda foi engatilhada por mim:
Ninguém se mata sozinho no fim do jardim.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Aquela noite

Um sumo ardente a perturbava naquela noite
Desde um envolvimento afinal, há algumas semanas
perdera a liberdade, o amor e a castidade!
E fadada a viver de verdade, logo ela,
Que aprendera a respirar mentira,
Deitou no leito incerto, morreu nas mentiras do ego.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Palavras soltas

Atônita
chorava
balbuciava
e ouvia
um puta aqui
vadia lá
prendia o choro
e não hesitava
em pensar por si só
que essa sociedade
hoje diz uma coisa
amanhã diz outra
e afinal
todo mundo
toda coisa
tudo um dia
vira pó.

Rasa

Eis um voto de amor e em anagrama que aqui eternizo:
Rasa em aconchego ao teu colo eu me quebro inteira
Quando me despedaças em cor, carinho e odor
E todos os anjos no céu cantam sorrindo: é amor!

Desde os meus prantos de iniquidade
Aos meus sintomas - tão ocos- de maldade, 
Em pureza fitas de longe, de perto e de qualquer ângulo o meu coração,
Catando com Deus, escolhendo à par, uma solução.

Estes teus olhos que decifram só verdades
E que me acolhem, com a córnea cheia de saudade
Será que deslumbram no espelho a graça da cabeça ao pé?
Pena se não enxergarem a sublimidade da tua face em fé.

E eu não sei como terminar sem pensar nessa pele,
Ah, essa maciez tão pura, tão completa, que o pecado repele;
Estes lábios dóceis, que não beijam -porque não querem- o infinito, 
Eu quero dizer que te amo, mesmo quando teu peito fadiga em mim e eu grito.

Poema dedicado à Sara Matter, a amiga de sempre! 

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Decorei as palavras amedrontadas ao teu ouvido!

Decorei as palavras amedrontadas ao teu ouvido! 
Quando me desejavas nua (sem saber que eu já era tua),
 Ecoou saudade no túnel do amor e,
nada poderia eu fazer se não deslizar em lágrima mesmo que atoa.

Decorei as palavras amedrontadas ao teu ouvido!
E eu olho teus traços; pelas telas, pelos lados
Lembro do enlaço dos dedos, das línguas e do tato;
Queimando em saudade como queimavam os troncos no leito.

Mesmo decorando o que meu cerne ansiava dizer e repelia teu conhecimento,
Eu já era tua no leito, na mente, na alma e no peito!
E ecoando saudade, fitando e evocando a seiva já gasta (e mui bem saboreada)
Não houve: não há nada a fazer; Queimo em saudade como todos os dias em que tentei te dizer.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

sofri tua falta nesse mês de julho,
(o primeiro sem tuas idas e voltas)
as minhas redes tão a sós no lar
e o tec tec de cada tecla, se calou sem se degastar.

-eu vou guardar todo esse amor
pra jogar na tua cara
e nunca mais ficar calada
quando teu rancor querer passar - até mais.


quinta-feira, 30 de junho de 2016

Uma noite de março morta

Em meio a um bombardeio de luz e toda a raiva do mundo
Que na véspera eu e no sábado tu ousara sentir sem despeito,
É que li teus olhos tristes, embriagados, caídos na beira da loucura e do fim.

Quando mergulhei o lábio e imergi inteira na onda daquela pele
Derramando meu sumo no teu corpo que como terra, esperava para germinar
E após os dias - os mergulhos, os choques, as almas que não combinavam entre si,
estava a semente pronta: viva.

E estando a semente viva não tardou a morrer num fim de junho,
(o que era uma criança na cabeça de março)
Agora sendo esquecida numa manhã fria de uma cidade calma a sete chaves:
De agora em diante aquela noite não sai mais da gaveta da minha alma!

terça-feira, 24 de maio de 2016

A xícara esfriou

A xícara esfria e eu tenho onze minutos para que sintas tudo;
Naquela noite escura - como todas as outras,
Em que debruçavas os dedos entre meus seios, atônito
A transcender as medidas do prazer e da agonia,
O espelho mostrava uma alma mendiga de amor curando-o em leito.

Quando tentavas os sorrisos num sexo repentino
Os olhos ardiam nas manhãs vindouras:
- O entrelaço dos corpos é o disfarce mais quente.
As palavras nasciam e todas elas eram postiças,
As festas eram caladas, já que, sem amor, no fundo eu nada seria.

O café se foi. Os onze minutos, agora vinte e três, estão fartos.
De esperar odor no que no fundo é só prazer das noites de sexta
(ás vezes quartas, quintas, segundas ou terças),
E tudo virar pó depois daquele momento: tudo virar nós para desatar.
Emudecendo os gritos ambíguos que choram por amar nas voltas que se dá.



sábado, 30 de abril de 2016

O penúltimo dia dezesseis

Desde o penúltimo dia dezesseis
Não existem dias mais vazios
Que todos os outros depois do décimo seis.
Desde teu lábio no terceiro mês,
Nenhum outro compensou o estrago,
O beijo e o afago que o amor me fez.

Quando depois do terminante em seis,
Os dias se passando num tênue fim,
Era continuidade do ultimo mês!
E os olhos fortes pintando a palidez,
Pairando em brasa na dança do acaso
Desenhando as rimas daquela timidez.

domingo, 10 de abril de 2016

Saudade

Não sei dizer mais nada se não saudade
Aquela que me instigava aos sábados
Durante às nove, quem sabe dez
De uma manhã que se fazia fria,
Que implorava meu louvor
Meu desejo de viver, viver e nada mais;
Que brindava a vida como quem se olha no espelho
E agora goza insatisfeita na espera do túmulo.

terça-feira, 8 de março de 2016

Uma eternidade numa noite de sexta-feira

Ainda sobre aquela última sexta:
A fumaça corria e sumia no beijo que morreu no escuro,
E enquanto as portas batiam-se as latas eram assassinadas pelas gotas d'água
Que ecoavam como lágrima das nuvens ao chão.

A chuva lacrimejava, os olhos ardiam, as canções emudeciam-se!
E o silêncio ensurdecedor gritava tentando desatar
(Tudo virou nós naquele instante); não sobrou pó.
Só floresceu eternidade no refrão que todo mundo dizia que não passava de uma noite a sós.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Um campo mui sagaz

A chuva ecoa no coração:
Os talheres, o tilintar das moedas tão poucas
E um silêncio absurdo se presenteia horas a fio:
Naquela noite, pois -como todo o carnaval tem seu fim-
Eu só queria poder dizer toda as migalhas sentidas que podi.

Em plenos trezentos, talvez meados de outro mês
Colada no lábio de um outro alguém
Lembrando das curvas (tua pele é o poema mais quente)
Remoendo um desejo agudo de só querer jazer por não mais o ter.

Tece em mim palavra solta, e um grito enfim
Dê-me um pouco do inverno do teu peito,
Que a vida, as estações, a caminhada é um campo mui sagaz 
Com pouca chance de se rasgar só.



terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Sonhos de uma terça-feira

Quando me encaras nua: tão tua,
Transbordo-me em uma rima solta
Dos poros do meu torso.
Quando te encaixas ligeiramente em minh'alma,
E a tua boca  nos meus peitos, meu corpo que tumultuado
Corre ao teu encontro, já deves saber que da noite
sou dessas mulheres - sem medir talheres -
Em dizer um sim para as loucuras todas.

Mesmo na terça feira um vazio morre inteiro e um desejo ergue-se a fio:
Quando puxavas meus panos e dizias:"dê-me um gole desta vida"
Que de ti se foi num vazio ambíguo e quando renasce jaz sempre.
Mas quando se refaz em poema e quando no meu seio o sumo escorre
No teu pescoço o suor corre, os corpos nadando um contr'outro
Então acordo daquele manto quente que em teu braço me envolveu:
Eu saio da cama pronta pra realizar meu sonho quente em teu beijo (que é meu).

domingo, 7 de fevereiro de 2016

"todo o carnaval tem seu fim"

No meio da fumaça, ao meio e cravada
da grama, dá nada, uma erva sacana
ás oito da noite já beijando a minha boca.

Tacada na cama e com os olhos me invade
Os seios puros e a língua que arde
Tome essa brisa e finja que estamos falando de um fevereiro em Marte.

Me joga pra cima, me bota pra frente
E eu lembro do passado como um dengo presente
Cê num vale nada e meu coração já sente:

O afago, a rima toda solta vagando
Nos olhos como uma luz quando me olhando
Fitava, tão rara antes que mesmo imaginando

Que naquele mês eu nada tava achando.


OBS: os erros gramaticais são propositais.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Em falso

Ninguém ouve meu pranto.
Tampouco o sentem:
O ar transforma em veneno
o que desfez-se do amor em nada.
E inquieta do avesso, errante aos astros
Piso em falso, ao pé da margem
do ar que me sussurra em brasa
que no peito queima dizendo assim:
coitada!

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Preciso dizer que te amo

Ando procurando descrever estas tuas asas ligeiras:
Todas prontas a voar depressa demais!
E entregando-me a esta saudade louca
(De repente tua boca, da minha, se vai.)

Quando voavas assim, tão repentinamente
Meu peito voava ao abismo gozando desgosto
De todo verso, de todo o pranto
Que minha prosa beijou o lábio do agosto.

E nestes dias janeirinos pude prever o inverno tão cru
Antecedendo o tempo de amar, a estampa dos anos.
Com este fito vazio tu me olhavas ao longe
Descartando a possibilidade - minha antiga vontade- de dizer mais uma vez que te amo!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

o melhor lado bom

gritos de horrores me causavam aqueles sapatos lustrados
de farda em farda em que os olhos se entrelaçavam:
mendigo qualquer rancor do meu amor que no fundo
eu achei que era ódio.

se me prostrasse sobre o passado que me era presente
que me era para ser futuro, no ano vindouro, nos anos a mais
 nem assim ele se tardaria a ir embora como um furacão:
nem mesmo implorando os gritos de qualquer pessoa que me era um nada.

sobre o lado bom da vida: devo à ele o reconhecimento e não a calúnia.
a calúnia dos piores grandes momentos que pareciam até quilométricos
das pequenas joias que não me passavam de bijuterias baratas
e vivo a indagando o que meu peito sempre quer exaltar: a dor tem o melhor lado bom.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

acaso

Se acaso
quiseres
voltar
chegar
me amar
sem essa
de hesitar
(tua boca
vou beijar).
Se acaso
vou ter
um caso
(nós dois)
nunca mais
vou chorar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Toma para ti meu lábio de seda que nem roupa
Usa-me teu bem, os meus dedos, a minha face:
rumora no meu peito os intentos por dizeres a minh'alma antes
crava tua mão no meu passado errante!

Na cálida noite: arrepia-me esse semblante
e o tempo unge, a textura envelhece - os odores morrem.
em cadência meu riso farto, caindo, mansinho.
- as angústias se entrelaçam quando tua mão passa comigo o presente inconstante!