terça-feira, 29 de abril de 2014

Felicidade azarada

Pude presenciar como nenhum, no entanto: a fome.
Ninguém nunca sabe que nem sempre é de pão ou de amor.
É de afeto, de busca, de prosa.
Prosa do poesco fatigado de longe, do corpo, do retrato, e do peito: mais longe ainda.

Mas o amargo é não ser poeta; a tristeza é a infidelidade de palavras que transam com outras e demais poetas e que me suga de vontade de morte!
O abismo está nas pupilas alheias e o improviso de cada é podre.
"A vida é uma cena de improviso e nem sempre a gente sabe atuar";

...uma cena mal ensaiada. Felicidade, azarada.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Qualquer outro alguém

Senti tua falta na manhã de abril, ao pé do outono
E lembrei-me de um verso tão distante.. quase que inexistente.
Chorei a ausência dele, murmurei como ele murmurara nos meus ouvidos
e em meus pensamentos, palavras tuas e um anagrama árduo.

Não tive escolha se não lamentar. Aquelas estrofes, se irem..
Assim como tu, assim como todos.
A ausência é irmã do tempo e inimiga da alma.
Do peito e sim, do meu.

Mas despejei letras interditas no papel pra ti assim como demais manhãs de abril,
Interroguei meus ossos vibrantes por baixo da minha pele de animal e não cabia
resposta alguma à eles.
Era tolice pensar que haveria sequer uma resposta pra qualquer pergunta.

Porque neste outono o amor me pegou como cólera e o cair das folhas
fora como o meu peito morrendo de mim mesma:
Estou farta de resumos árduos e histórias podres das quais repetem-se diariamente.
Eu vou sair daqui. Eu vou me dedicar e amar.

Amar por aí, qualquer outro alguém, alguém que não te inclua e não faça-me mais sentir-te de saudade nas manhãs mais puras do ano: as de abril, as do outono.

sábado, 26 de abril de 2014

Vem e vai como uma prosa, do grande poesco

Na fumaça o meu rosto se transbordava em águas e tentei esconder nela a minha dor
As minhas mãos pesadas, o meu olhar cansado, 
Eu te deixei na mente, se indo, lentamente como um pássaro que se esvai do ninho. 

Pensei o porquê da minha prosa ter letras tuas e nos meus cabelos ter dedos teus.
Chorei na ausência da morte e na presença da vida em que o pranto tenebroso se pareceu eterno
Eu sofri como numa velhice interna num leito e na espera de qualquer solução, um fim qualquer.

E na minha nicotina não arranjei motivos para seguir. Tampouco, na procura, os tinha.
Pois na minha gramática não achei palavras para consolo próprio, e só veio verso
O meu pão e o meu gozo: que vem e vai, como uma prosa, do grande poesco

terça-feira, 22 de abril de 2014

Ninguém nunca entende a minha prosa

Regada de estrelas a minha palavra se esconde:
ninguém nunca entende minha prosa.

Mesmo que pequena, quase que uma célula morta:
se move. Ninguém nunca entende.

E por não entendê-la é que não sei se fico feliz ou triste
Será ela o complexo ou a poesia falha?

Ninguém nunca entende a minha prosa.
Nunca compreendem a minha dor.

E mesmo que meu peito haja com o horror,
Com martelos quentes de brasas ensanguentadas

O meu lirismo nunca é visível.
Ninguém nunca entende a minha prosa!

E não entendo esses poetas que xingam aqui e ali o meu sexo:
Não entendo essa gente que não entende a minha prosa.

Porque ninguém entende porque não quer.
Porque a minha prosa por trás do que eu quero é simples.

Ninguém sequer sabe me dizer a verdade
E estou farta da gramática e das línguas:

Estou farta de cansaço da arrogância contínua contra o meu peito ferido.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Tadeu

Aos teus olhos, Tadeu
Entrego as margens do tempo: se tardam como as flores das quais julgo benditas.
No teu corpo eu me acanho dos anos, das rugas, do verde, da falta;
Não quero crescer se não com o teu princípio e o bater do teu peito.

E quando digo-te em resumos árduos e plenos que não me basta o mundo,
As lojas, as máquinas e os carros: deves acreditar na ânsia do renascimento
Da morte da dor, da moradia de instantes daqui, dali, do presente.
- Deus é que não me mate o lirismo!

Mas o sábado chega, amor
Olharei para os teus olhos e lembrarei dos teus lábios.
O tempo das uvas também chegará, a parreira há de interromper os espinhos
E do gozo que sentiremos será como o alívio dos teus erros.

Do meu amor reprimido, Tadeu, quero que saibas que vagarei somente com teus restos por entre palavras de pura saudade inigualável.
O disfarce do amor.
Os teus ossos de flor.

sábado, 12 de abril de 2014

O eterno, o princípio da morte, tu estás

Não me saciam as respostas da tua morte por aqui:
por que diabos em março?
no cair das folhas secas, no jazer do meu verão;

o tempo é tarde para narrações e intercessões de eufemismos pobres;
o vento e a chuva continuam a favor das folhas:
cobrem o chão de serviço do esquecimento.

eu sei: tu querias estar
pouco tinha o discernimento da escolha de se ir
se não fosse a minha língua, tua rosa apodreceria  fria.

talvez pouco tu compreenderias
mesmo que o raciocínio ainda fértil semeasse, que
tu estas no melhor dos melhores: mais viva que muitos

Que ao contrário da vida, a morte é imortal.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Clusa

Se não fossem as pálpebras negras sob a pele de soslaio
Não estaria aqui. Não estaríamos nessa.

Se não tivesses os ossos vibrantes e os olhos neutros,
O canto tilintando nos ouvidos deles... 

Clusa, anagrama
Deus é que me perdoe!