Restou então um lamento silencioso pela vinda do hoje,
Angustia amarga pelo ontem que se foi,
Esvaindo-se por entre dedos de luz e olhos os sonhos,
E o amanhã nocivo chegará tão depressa,
Quanto o hoje chegou, já se indo.
Ah vida que de mim tira o tudo que me faz
Transformando minhas lágrimas em teu riso,
Não fechando meus cortes ardidos em navalhas,
De palavras repetidas e corações partidos,
Ah vida, que caçoa do meu ser
Imperfeito na perfeição de meu machucar.
Oh vil céu que fecha sobre mim suas asas,
Bloqueando do sol o calor, roubando das estrelas
O brilho que em mim não reluz, também usurpando
por sua vez, a mentira poética de que o amor
vem das estrelas em noites de sereno luar.
Ah como os minutos parecem-me anos e,
Num piscar de olhos já passou-se a hora,
E num estalo de dedos
A paixão foi-se embora,
E por ser tão rápido as fases dessa jornada,
É que choro agora.
E por isso canto dia e noite,
noite e dia,
ao sol e aos céus,
à lua e as estrelas,
para como um certo Capitão Rodrigo,
zombar da morte,
Assim como a vida zomba de mim.
Participação especial de Robert Wilde